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Da bancada

Eu e meus alicates

Em dezembro de 2017, participei de um evento no Rio de Janeiro – o Joialerismo Expo – e, lá pelas tantas, no final do dia e já cansada, entreouvi uma conversa sobre as dificuldades do ramo. Quem me conhece pessoalmente sabe que adoro me meter numa conversa e dar uns palpites. Muitas horas de trabalho, trabalho físico, muitas incertezas, muita burocracia, muito marketing, ai, os clientes…

Não aguentei e perguntei quantos anos eles tinham. Resposta: 24. Cai na gargalhada e respondi sem pensar – outro de meus talentos: eu tenho alicates mais velhos que vocês. Já contei que era meu aniversário?

Em vez de deixar os anos pesarem, esta cena me colocou num astral de celebrar muito! Comemorar mesmo! Os dois alicates da foto completavam 30 anos naquele ano. Então agora são 32 aninhos. A data da compra já ficou nas brumas do passado, mas com certeza foi no Cronômetro Federal, na Rua Senhor dos Passos, no Rio de Janeiro. Com mais certeza ainda, eu estava com minha mãe, Regina, dando uma força incrível como sempre. Afinal, trabalhávamos juntas e andávamos juntas para cima e para baixo, falando de joias, o dia todo. Devia ter nas mãos uma listinha de ferramenta daquelas que os ateliês-escola distribuem até hoje. Eu tinha uma mala de ferramentas azul e cinza que carregava para as aulas. Comprada em loja de material de construção, porque ainda não era moda fazer joias.

Dessa época só restaram os alicates. Levei muito tempo viajando para cima e para baixo e, durante uma estadia de um ano na Colômbia, minha bancada horrorosinha foi defenestrada pela família, se não me engano para guardar a bicicleta do meu irmão, o Tadeu, que se chamava Lula então e já era maior do que eu. Até hoje dizem que a culpa foi de umas formigas e uns cupins… Sei.

Fiquei uns dias sem trabalhar. Como vocês sabem, capinando meu lote aqui. Voltei ao trabalho e me senti enferrujada, tanto quanto me sinto enferrujada voltando a escrever uma postagem. Fiz a primeira, fiz a segunda, a terceira e a quarta peças. Agora há pouco, comecei a quinta, peguei na gaveta esses dois alicates e tive a mesma sensação de renovação e celebração. Passou um pensamento do tipo: nossa! não é que eu sei fazer isso! É de verdade!

Não importa a área, sempre vai rolar uma sensação de sermos impostores. Sempre vai dar vontade de largar tudo e vender coco no Nordeste. (Não tem Nordeste suficiente para todo mundo do mundo inteiro que já teve essa ideia passando pela cabeça. E Bali também não é suficiente, não!)

Muito tempo. São anos encarando uma bancada de joalheria. Há uns 12 anos, todos os dias, ou quase. Já disse que amo meu trabalho e amo escrever? Voltei! Ainda não consigo acreditar.

Foto dos meus alicatinhos preferidos

Essa história foi publicada originalmente no Bijoux Bliss, em 14 AGO 2017.

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