Uma carta aberta em tempos de Covid-19
Num momento tão delicado para todo mundo, continuarei oferecendo o melhor de mim, trabalhando, comunicando e ensinando, para enfeitar e entender o mundo. Aqui tem muita delicadeza, respeito e sinceridade. E joias, muitas joias! Como sempre e com mais carinho ainda.
Ontem, quando comecei a preparar minha newsletter “Notícias Telegráficas”, que existe há mais de 15 anos, lembrei-me que deixei um emprego para criar o ateliê como ele é hoje, no dia 07 de outubro de 2008, exatos 8 dias depois do crash da Bolsa de Nova York. Até eu me achei completamente louca. Passados quase 12 anos, essa continua sendo a melhor decisão que tomei.
Desde 13 de março, estou em distanciamento social, isso que agora se tornou quarentena multiplicada muitas vezes e, aparentemente, sem fim. Passei o início desse tempo criando outras formas de estar no mundo. Ando mais presente nas redes sociais e na blogosfera. Ainda não me decidi por criar um ecommerce comme if faut, porque não tenho certeza se o tempo lento do meu trabalho feito à mão, peça por peça, muitas delas feitas sob encomenda ou a partir de peças antigas, suporta esse formato.
Há muito tempo decidi que trabalharia com o conceito de preço justo e de que a única mão de obra explorada seria eu mesma. Isso não combina com alguns custos fixos e financeiros do formato e muito menos com sua frieza. Além disso, as muitas horas de trabalho e gestão que isso envolve me afastam da bancada e dos livros. Não me agrada a ideia. Estou me adaptando com uma solução intermediária aqui no site, onde disponibilizarei todas as peças com preços. Veremos.
Eu também me deparei nos últimos dias com uma questão que domina os fóruns de joalheiros do mundo inteiro agora: é correto vender joias no cenário atual?
Existem questões éticas e estéticas a serem consideradas. Elas nos obrigam a pensar o que é luxo e quais são as necessidades de cada um.
A conclusão a que cheguei depois de muito pensar é de que o consumo é uma escolha particular em boa parte definida pela possibilidade e pelo desejo e que não cabe a mim arbitrar sobre isso simplesmente me ausentando. Honestamente, se eu não trabalhasse agora, criando e vendendo, estaria assumindo que meu trabalho não vale nada, não é importante.
A experiência diz o contrário. Todos os casais para quem fiz alianças, todas as pessoas que deram presentes cheios de carinho e significados, todas as famílias que tiveram suas joias recuperadas e todos aqueles que tiveram a peça dos seus sonhos confeccionada por mim sinalizam que meu trabalho é relevante. Anéis poderosos que são assunto de conversas, terços, amuletos, brincos leves, brincos incríveis, pulseiras para nunca mais tirar do pulso, anéis de noivado, colares discretos ou extravagantes… Tudo isso me vem à mente e lembro que meu trabalho não é fútil nem insignificante.
Há outro aspecto importante. O empreendedorismo de pequeno, mínimo porte. Há uma longa cadeia de valor por trás de cada peça. Hoje, todos os compromissos com meus fornecedores estão em dia e sei da importância da saúde do meu negócio para a manutenção de toda essa cadeia. As peças criadas para o fim de 2019 foram um incrível sucesso e AGRADEÇO a cada um dos meus clientes-amigos e amigos-clientes. Empolgada com esse resultado e com a certeza de que 2020 seria um ano importante na minha trajetória – depois de dar à luz uma tese e dois livros – eu me preparei e investi para retomar a produção na bancada com força total. E não pretendo me deixar abater. Foi mais uma decisão. Espero que a mais acertada.
Não sei sobre o futuro, próximo ou remoto. Não vou me colocar numa posição de medo porque acredito em meu trabalho e nos valores que transmito com ele. Espero estar por aqui muitos anos mais, contagiando pessoas com luz, cor e muita alegria!
Então se alguém quiser dar presentes, se presentear ou desenvolver algum projeto especial, conte comigo!
São Paulo, 15 de abril de 2020
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